4.3.18

Ana Pérez Cañamares (Há palavras que se fecham)






Hay palabras que se van cerrando                                         
como bares viejos comprados
para abrir zapaterías.

Palabras que nunca más pronunciaré
con naturalidad. Palabras que
para siempre sólo serán citas.

Nunca viví por dentro la palabra
abuelo. Abuelo era el título de un cuento
escrito en otro idioma.

Madre fue una palabra temida y adorada
un tótem levantado en medio de La Mancha.

Padre era un pasillo en el que nunca
me detuve por mucho tiempo.

Palabras cerradas.
Juguetes de la infancia que ya
no se fabrican.

ANA PÉREZ CAÑAMARES
Las sumas y los restos
(2013)





Há palavras que se vão fechando
como velhos bares comprados
para abrir sapatarias.

Palavras que não pronunciarei jamais
com naturalidade. Palavras que
serão sempre apenas citações.

A palavra avô nunca a vivi
por dentro. Avô era o título de um conto
escrito em outra língua.

Mãe, uma palavra temida e adorada,
um totem erguido a meio da Mancha.

Pai era um corredor onde nunca
me detive por  muito tempo.

Palavras fechadas.
Brinquedos da  infância que
não se fabricam mais.

(Trad. A.M.)

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Tradução duplicada, face a esta outra: Há palavras
Na verdade, duas traduções diferentes, por lapso de atenção, de momentos diferentes, como já aqui tem sucedido tantas vezes.
Mantêm-se ambas, por isso mesmo, apesar de a anterior parecer francamente melhor.


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